terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O Dr. Lauro e o dinossauro



Será que vocês sabem o que é um dinossauro?
Hoje tivemos um, na sala, com um amigo muito especial, o Dr. Lauro. Fizeram-nos companhia quase todo o dia. E sabem quem é que nos trouxe estes amigos? Uma pessoa de quem gostamos muito, a Luísa Ducla Soares.
Foi bom, mas... sabem quanto pesa um dinossauro? E o que come? E o espaço que ocupa?
Que cansativo!

O Dr. Lauro e o dinossauro

O sonho do Dr. Lauro eram os dinossauros.
Curvado, com os óculos empoleirados, vivia entre grandes calhamaços poeirentos que só tratavam de dinossauros.
Em vez de retratos de família, tinha quadros com desenhos de dinossauros, dinossauros enormes pelas paredes, minúsculos, enternecedores dinossaurozinhos emoldurados sobre a cómoda, a secretária, a mesinha-de-cabeceira.
Será que vocês sabem o que é um dinossauro?
Em tempos distantes, distantes, quando ainda não aparecera o homem, quando ainda não havia lobos a uivar à Lua, nem os pássaros riscavam o céu com suas asas, quando ainda as raposas não perseguiam coelhos, nem o cavalo e a corça corriam pelo campo, pois também eles não existiam, eram donos do mundo uns estranhos animais, enormes e possantes, monstruosos lagartos mais corpulentos que o elefante, maiores que a baleia – os dinossauros.
Era então a Terra um paraíso quente, salpicado de lagos, sulcado de rios, encabeçado de florestas há muito desaparecidas, de flores fantásticas que os nossos olhos nunca viram, cujo perfume nunca nos envolveu.
Cataclismos, tempestades de neve e frio se abateram depois sobre a Terra, destruindo os dinossauros.
Com esse mundo perdido sonhava o Dr. Lauro.
Mal raiava o sol, partia, de picareta às costas, para os ermos, cavando em busca de restos de outras eras. Descobrira dentes imensos, ossos roídos pelo tempo, que juntava com cuidados paciência de sábio, nas noites de Inverno.
Nos desertos de África, nos glaciares do Pólo Norte, escavava o Dr. Lauro. De tanga ou “anorak” até ao nariz, rodeado de pretos ou de esquimós.
Ora um dia, nas montanhas de gelos eternos, que o sol não consegue derreter, fundo, bem fundo, encontrou um ovo descomunal. Junto com carcaças velhas, escamas, dentaduras, o recolheu. E ao calor da lareira o deixou ficar enquanto no chão alinhava carinhosamente os ossos de dinossauros.
Até que certa noite, naquela estranha casa coberta de pó, ouviu de repente ranger. Qualquer coisa estalava. Onde? O quê?
Qual não foi o seu espanto quando do ovo sarapintado viu sair, pequeno, frágil, assustado, um…dinossauro!
O Dr. Lauro pegou ao colo no dinossauro. Enrolou-o em cobertores, deu-lhe papa de leite, moscas, tenras folhas de alface.
Quando o dinossauro fez um mês não cabia na cama, quando festejou um ano não cabia na casa, aos dois ocupava jardim, quintal, horta e pomar. Chegara aos trinta metros e ainda tinha muito para crescer.
Comia uma carroça de hortaliça a cada refeição, esvaziava um tanque em cada golada.
O sábio Dr. Lauro afundara-se na miséria. Vendera livros, tesouros de dentes e ossos arrancados ao ventre da terra, mas não ganhava coragem para se desfazer do dinossauro.
Queria-lhe como um pintor quer a seu mais belo quadro, um escritor ao seu melhor livro, um pai ao seu filho. Não se cansava de lhe admirar as escamas verdes, os olhos brilhantes, os movimentos ágeis, o focinho terno.
Vendeu casa, vendeu jardim, picareta, botas, guarda-chuva, sobretudo.
Ficou sem nada, no meio da rua, com o dinossauro.
Então a Sociedade Protectora dos Animais ofereceu-se para albergar o dinossauro.
A Sociedade Protectora dos Sábios propôs-se hospedar o Dr. Lauro.
Ao separarem-se, chorava o Dr. Lauro, chorava o dinossauro.
Não digam que os dinossauros deitam lágrimas de crocodilo!
Antes que uma semana tivesse passado, morria de saudades o último dinossauro e perdia-se o sábio que tanto soubera sobre o tempo perdido.

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